Os inimigos são duas pessoas pertinho uma da outra, mas de costas, porque se se virarem se encontrarão. E é isso o que temem. São mais unidos, talvez, que amigos, um de frente para o outro, mas a metros de quilômetros de distância e só por isso se entendem.
Há duas situações inimigas dentro do amor. Pertinho e uma de costas para a outra. Ambas as situações convivem em quem ama. Porque "viver bem" não é dar certo. Dar certo é ser capaz de prosseguir apesar do desacerto. "Viver mal" não é necessariamente dar errado. Dar errado é não poder prosseguir.
O medo de amar é o medo de estar perto demais, o que de certa forma escraviza. O engano de amar é estar longe, mas de frente, o que de certa forma atenua.
A coragem de amar é como a coragem de ser: é fazer os dois inimigos, de costas um para o outro, virarem-se de frente para sentir hálito, olho, medo, força, ternura, muita raiva e muito carinho e aceitar tudo; por isso, amar. A falsidade do amor é permanecer de frente como amigos: pura e simplesmente se aceitando. Sem contradição. Sem a oposição capaz de ser vencida pela permanência do sentimento, a despeito do eu de cada um.
O medo de quem ama é o medo da relação profunda. Porque é nela que está a entrega. E tão profunda que não rompe, apesar das tragédias da superfície. E a superfície só faz a tragédia, para impedir que o eu contemple de frente a relação profunda.
Na relação profunda está o desamparo e a necessidade tão pura que nunca pode vir à tona. Mas na relação superficial está afantasia, o eu idealizado, a armadura enfeitada de cada um.
Não te vires de frente para o inimigo! Podes amá-lo. Ele vai adivinhar e tu também, o amor que está na peleja de quem ama. Não fiques tão de frente, mas tão longe de quem gostas. No que chegares perto, talvez detestes e sejas detestado.
Amar é estar de costas. Gostar é estar de frente. Um ultrapassa a inimizade que vive junta. Outro vive da amizade fácil, mas que se ao se aproximar pode não ser amor. Por isso era tão fácil sentir. No fundo é ter medo de virar de frente. Porque aí pode surgir, cristalina, a possibilidade de dar certo. E a entrega. Que é no fundo o que quem ama mais teme.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
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