domingo, 26 de outubro de 2008

Floquinhos de amor X poções mágicas e encantamentos


Era um lugar muito feliz.
Todos tinham uma sacolinha cheia de floquinhos aquecidos.
Os floquinhos nunca acabavam, pois eram distribuídos à vontade entre eles.
Quanto mais distribuíam mais tinham; quanto mais distribuíam, mais ganhavam.
Os floquinhos davam energia, alegravam, encorajavam, acolhiam, enturmavam...
Por causa disso todos eram saudáveis, companheiros e amorosos.

Mas um dia apareceu por ali uma bruxa. Uma bruxa má.
Ela estava aborrecida porque ninguém comprova seus ungüentos e poções mágicas,
Pois num lugar onde todos são saudáveis, amigos e esperançosos
Não há necessidade de poções mágicas...

A bruxa má percebeu isso: pra vender sua magia as pessoas precisavam estar
Doentes, solitárias, desesperadas, desesperançadas...

Foi aí que ela começou a espalhar boatos sobre os floquinhos...
Ela começou a convencer o pessoal que os floquinhos acabariam se continuassem a ser distribuídos de qualquer maneira.
Disse também que quanto mais floquinhos as pessoas acumulassem, mais felizes e saudáveis essas pessoas seriam.
Infelizmente, uma mentira quando é repetida várias vezes, fica parecendo uma verdade.

Aos poucos as pessoas foram deixando de distribuir, partilhar e compartilhar seus floquinhos.
Até que ninguém mais pensava noutra coisa senão em guardar para si mesmo,
Para uma futura necessidade os floquinhos “mágicos”.

O pessoal começou a negar floquinhos e com a diminuição e a extinção dos floquinhos,
Todos começaram a adoecer, sentirem melancolia, tornando-se pessimistas quanto ao futuro e indiferentes uns com os outros.

Parecia que a bruxa má tinha razão: os floquinhos desaparecem e chegou a catástrofe.
Lá foi o povo atrás da bruxa má desejando ajuda.
E a bruxa má não perdeu tempo: começou a fabricar e vender floquinhos falsos, parecidos com os verdadeiros, mas que eram gelados.

As pessoas não morriam, mas continuavam tristes, geladas.
Como os floquinhos não faziam o efeito desejado, cada vez as pessoas compravam mais, estocavam mais floquinhos gelados e continuavam infelizes.

Passou-se muito tempo.

Um dia quando poucos se lembravam de como era boa a vida, algumas crianças desavisadas encontraram um punhado dos floquinhos aquecidos, e começaram a brincar com eles, brincar de repartir, e depois de muito tempo ouviu-se risos e sinais de alegria.

Aquilo chamou a atenção de quem estava perto e muito envergonhados começaram a observar as crianças e a brincar com elas. Floquinho pra lá, floquinho pra cá...

Vendo que aquele grupo estava assim, tão feliz, mais, as demais pessoas quiseram entrar na brincadeira, quiseram participar daquela alegria, e então trouxeram também seus floquinhos aquecidos. E à medida que repartiam os floquinhos aquecidos, a velha alegria voltou.

Foi então que perceberam que não eram os floquinhos aquecidos que eram mágicos, mas a amizade e a partilha que havia. E nenhuma mágica ou encantamento poderia substituir a convivência, a partilha, a camaradagem...

Como a bruxa não conseguia vender mais seus encantamentos naquele lugar, foi à procura de um lugar onde as pessoas estivessem solitárias, tristes e melancólicas. Lá, muito possivelmente, as pessoas precisariam acreditar em qualquer bobagem para ter esperança de ser feliz... e na opinião da bruxa uma porção mágica é sempre uma boa opção.

A bruxa sumiu numa nuvem de fumaça, levando consigo a riqueza que ganhou com o sofrimento das pessoas daquele lugar.

Mas as pessoas haviam aprendido uma dura lição. Não há mágica que possa substituir a amizade e o carinho como remédio para todo tipo de adversidade.

E todos foram felizes para sempre.

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