quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Depois de algum tempo você aprende

http://www.youtube.com/watch?v=8eWzFlxjCpI

Depois de algum tempo você aprende a diferença,
a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se,
que companhia nem sempre significa segurança,
e começa a aprender que beijos não são contratos,
e que presentes não são promessas.
Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante,
com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança;
aprende a construir todas as suas estradas no hoje,
porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos,
e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo,
e aprende que não importa o quanto você se importe,
algumas pessoas simplesmente não se importam...
aceita que não importa quão boa seja uma pessoa,
ela vai ferí-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais,
e descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la,
e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida;
aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias,
e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida,
e que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que eles mudam;
percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa,
por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas;
pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós,
mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começa a aprender que não se deve comparar-se com os outros,
mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas onde se está indo,
mas se você não sabe para onde está indo qualquer lugar serve.
Aprende que ou você controla seus atos ou eles o controlarão,
e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade,
pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.
Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute
quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se;
aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas
do que com quantos aniversários você celebrou;
aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha;
aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens;
poucas coisas são tão humilhantes... e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando se está com raiva se tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.
Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame
não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode,
pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém;
algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga,
você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido,
o mundo não pára para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás, portanto,
plante seu jardim e decore sua alma ao invés de esperar que alguém lhe traga flores,
e você aprende que realmente pode suportar...
que realmente é forte e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
Descobre que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!
Nossas dúvidas são traidoras
e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar,
se não fosse o medo de tentar.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Unge-me (Hideíde Torres)

Quero ouvir as palavras de vida
Que só tu tens a dizer.
Quero sentir o toque da cura
Que só tuas mãos sabem dar...
Quero ouvir teu chamado
Quero seguir teu andar
Quero ter os pés sobre os montes
E o coração no altar!

Consagra-me, fala por mim
Guia meus passos em tua direção
Usa-me, faz-me teu vaso
Quero cantar somente a tua canção
Santo Espírito, unge-me!

Quero contemplar tua face
Quero ouvir tua voz de amor
Quero me prostrar e adorar-te
E declarar-te Senhor
A obter meros poderes ou honras
Prefiro estar a teus pés
E prestar-te reverência de servo
Por tudo o que tu és!

sábado, 26 de setembro de 2009

Quando se é idoso e quando se é apenas velho

Idoso é quem tem muita idade; velho é quem perdeu a jovialidade.
A idade causa degeneração das células; a velhice além da degeneração das células, sofre a degeneração do espírito.
Você é idoso quando se pergunta se vale a pena; você é velho quando comodamente e sem pensar responde que não.
Você é idoso quando sonha; você é velho quando apenas dorme.
Você é idoso quando ainda aprende; é velho quando já não ensina mais.
Você é idoso quando se exercita, é velho quando apenas descansa.
Você é idoso quando ainda sente amor; velho quando apenas sente ciúmes.
Você é idoso quando o dia de hoje é o primeiro do resto de sua vida; é velho quando todos os dias parecem o último de uma cansativa jornada.
Você é idoso quando o seu calendário tem amanhãs; é velho quando só tem ontem.
O idoso se renova a cada dia que começa, o velho morre a cada noite que termina, pois enquanto o idoso tem seus olhos postos no horizonte, de onde o sol desponta e ilumina a esperança, o velho tem sua miopia voltada apenas para as sombras do passado.
O idoso tem planos; o velho só tem saudades.
O idoso tem amigos com quem gosta de estar; o velho só tem perdas.
O idoso cultiva a vida; o velho cultiva o dolorismo: só fala de doenças, remédios, dores, tragédias, desesperança e morte.
O idoso quer viver cercado de alegrias e amigos, o velho quer que sintam pena dele e que ouçam suas lamúrias.
O idoso curte cada dia que Deus lhe acrescenta à existência; o velho sofre a velhice apenas como uma preparação para a morte.
O idoso leva uma vida ativa, com projetos importantes e marcada pela esperança. Para ele, o tempo passa rápido, as limitações da velhice vão chegando, mas a velhice mesmo nunca chega.
Para o velho suas horas se arrastam destituídas de sentido.
As rugas do idoso são bonitas porque são a história de uma vida que é vivida, e são marcadas pelo sorriso. As rugas do velho são as marcas da amargura, as expressões de quem passa pela vida e desistiu de viver.
O idoso e o velho podem ter a mesma idade cronológica, mas têm idades diferentes no coração.
Que você idoso, viva mais e melhor cercado de alegrias, conquistas e muitos, muitos amigos.
E você, velho, levanta, sacode a poeira, encontre em Deus e nos amigos a vitalidade e alegria, e aprenda a ser idoso.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A filha de Jairo (Tavares Franco)


(Mc 5:22-43)

Jairo, homem bom, conceituado e crente
em Deus, ouvindo de Jesus a fama,
foi suplicar-lhe, em pranto, humiuldemente,
salvar-lhe a filha que deixou de cama.

NA estrada, vem um criado e, ao longe, exclama:
- Não incomodeis o Mestre, que a doente
morreu. Jesus, sentindo o enorme drama
da alma do pai, consola-o docemente.

- Ela dorme, conclui. E lá chegando,
fala à morta: - Levanta-te, menina!
E esta, de fato, ergueu-se e foi andando.

- Milagre! E Cristo afirma: - A segurança
da fé conquista a permissão divina.
Tu arrancaste à morte esta criança...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Sexo & Amizade

“Eu só me apaixonei pelos homens a quem eu podia magoar. Você é meu melhor amigo. Afeto assim é muito precioso pro sexo botar tudo a perder. O sexo subverte, tira a espontaneidade, cria expectativas, confere poder. Não gostaria de te odiar só porque você não fez o gesto que eu esperava ou não disse aquilo que eu queria ouvir”.

(Argumento da personagem Lena, de Débora Bloch, para não se envolver sexualmente com o personagem Léo, de Dan Stulbach, na mini-série Queridos amigos exibida na Globo em março de 2008).

Canção do Expedicionário (Guilherme de Almeida)



Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão,
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
Você sabe de onde eu venho ?
E de uma Pátria que eu tenho
No bôjo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreno,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacaranda,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Venho do além desse monte
Que ainda azula o horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz !

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Credo (Guilherme de Andrade de Almeida)


Creio no pavilhão das treze listas,
na santa união de todos os paulistas,
na comunhão da raça adolescente,
na remissão final de nossa gente,
na ressureição de nosso bem,
na vida eterna de São Paulo, amém

sábado, 24 de janeiro de 2009

Oração por Marilyn Monroe (Ernesto Cardenal)

Senhor
recebe esta moça conhecida em toda parte pelo nome de Marilyn Monroe
mesmo não sendo seu verdadeiro nome
(mas Tu conheces seu verdadeiro nome,
o da órfãzinha violada aos 9 anos
e da empregadinha de loja que aos 16 já quisera se matar)
e que agora se apresenta diante de Ti sem nenhuma maquiagem
sem Assessor de Imprensa
sem fotógrafos e sem dar autógrafos
sozinha como um astronauta diante da noite espacial.

Ela sonhou quando menina que estava nua numa Igreja (segundo conta a revista Time)
ante uma multidão prostrada, com as cabeças ao chão
e tinha de caminhar na ponta dos pés para não pisar nas cabeças.
Tu conheces nossos sonhos melhor do que os psiquiatras
Igreja, casa, cova são a segurança do seio materno
mas também algo mais que isso...
As cabeças são os admiradores, é claro
(a massa de cabeças na escuridão debaixo do facho de luz).
Mas o templo não são os estúdios da 20th Century Fox.
O templo – de mármore e ouro – é o templo de seu corpo
em que está o Filho do Homem com um chicote na mão
expulsando os mercadores da 20th Century Fox
que fizeram de Tua casa de oração um covil de ladrões.

Senhor
neste mundo contaminado de pecados e radioatividade
Tu não culparás tão-somente a empregadinha da loja.
Que como toda empregada de loja sonhou ser estrela de cinema.
E seu sonho fez-se realidade (mas com a realidade do technicolor).
Ela não fez senão atuar conforme o script que lhe demos
- O de nossas próprias vidas – E era um script absurdo.
Perdoe-a Senhor e perdoa-nos pela nossa 20th Century Fox
por esta Colossal Superprodução em que todos nós temos trabalhado.

Ela tinha fome de amor e lhe ofertamos tranqüilizantes,
para a tristeza de não ser santa, recomendamos-lhe a Psicanálise.
Lembra-te Senhor de seu crescente pavor à câmera
e do ódio à maquiagem – insistindo em maquiar-se em cada cena - e como foi se tornando maior o horror e maior a impontualidade nos estúdios.

Como toda empregada de loja
sonhou tornar-se estrela de cinema.
E sua vida foi irreal como um sonho que um psiquiatra interpreta e arquiva.

Seus romances foram um beijo com os olhos fechados
olhos que quando se abrem
descobre-se que foi sob os refletores e apagam os refletores!
e desmontam as duas paredes do aposento (era um set cinematográfico)
enquanto o Diretor afasta-se com suas anotações porque a cena já foi filmada.
Ou uma viagem de iate, um beijo em Cingapura, um baile no Rio
uma recepção na mansão do Duque e da Duquesa de Windsor
vistos na TV de um apartamento miserável.
O filme terminou sem o beijo final.
Foi achada morta em sua cama com a mão no telefone.
E os detetives não souberam para quem ela ia ligar.
Foi como alguém que discou o número da única voz amiga
e ouviu tão-só a voz de uma gravação que diz: WRONG NUMBER.
Ou como alguém que ferido pelos gangsters
estende a mão a um telefone desligado.

Senhor
quem quer que tenha sido a quem ela ia telefonar
e não telefonou (e talvez fosse ninguém
ou era Alguém cujo número não está na Lista de Los Angeles)
atende Tu ao telefone!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A pipa e a flor (Rubem Alves)

Era uma vez uma pipa.
O menino que a fez estava alegre e imaginou que a pipa também estaria. Por isso fez nela uma cara risonha, colando tiras de papel de seda vermelho: dois olhos, um nariz, uma boca...
Ô pipa boa: levinha, travessa, subia alto...
Gostava de brincar com o perigo, vivia zombando dos fios e dos galhos das árvores.
- “Vocês não me pegam, vocês não me pegam...”
E enquanto ria sacudia o rabo em desafio.
Chegou até a rasgar o papel, num galho que foi mais rápido, mas o menino consertou, colando um remendo da mesma cor.

Mas aconteceu que num dia, ela estava começando a subir, correndo de um lado para o outro no vento, olhou para baixo e viu, lá num quintal, uma flor. Ela já havia visto muitas flores. Só que desta vez os seus olhos e os olhos da flor se encontraram, e ela sentiu uma coisa estranha. Não, não era a beleza da flor. Já vira outras, mais belas. Eram os olhos...
Quem não entende pensa que todos os olhos são parecidos, só diferentes na cor. Mas não é assim. Há olhos que agradam, acariciam a gente como se fossem mãos. Outros dão medo, ameaçam, acusam, quando a gente se percebe encarados por eles, dá um arrepio ruim elo corpo. Tem também os olhos que colam, hipnotizam, enfeitiçam...

Ah! Você não sabe o que é enfeitiçar?!
Enfeitiçar é virar a gente pelo avesso: as coisas boas ficam escondidas, não têm permissão para aparecer; e as coisas ruins começam a sair. Todo mundo é uma mistura de coisas boas e ruins; às vezes a gente está sorrindo, às vezes a gente está de cara feia. Mas o enfeitiçado fica sendo uma coisa só...

Pois é, o enfeitiçado não pode mais fazer o que ele quer, fica esquecido de quem ele era...
A pipa ficou enfeitiçada. Não mais queria ser pipa. Só queria ser uma coisa: fazer o que a florzinha quisesse. Ah! Ela era tão maravilhosa! Que felicidade se pudesse ficar de mãos dadas com ela, pelo resto dos seus dias...E assim, resolver mudar de dono. Aproveitando-se de um vento forte, deu um puxão repentino na linha, ela arrebentou e a pipa foi cair, devagarzinho, ao lado da flor.
E deu a sua linha para ela segurar. Ela segurou forte.
Agora, sua linha nas mãos da flor, a pipa pensou que voar seria muito mais gostoso. Lá de cima conversaria com ela, e ao voltar lhe contaria estórias para que ela dormisse. E ela pediu:
- “Florzinha, me solta...” E a florzinha soltou.

A pipa subiu bem alto e seu coração bateu feliz. Quando se está lá no alto é bom saber que há alguém esperando, lá embaixo.
Mas a flor, aqui de baixo, percebeu que estava ficando triste. Não, não é que estivesse triste. Estava ficando com raiva. Que injustiça que a pipa pudesse voar tão alto, e ela tivesse de ficar plantada no não. E teve inveja da pipa.
Tinha raiva ao ver a felicidade da pipa, longe dela... Tinha raiva quando via as pipas lá em cima, tagarelando entre si. E ela flor, sozinha, deixada de fora.
- “Se a pipa me amasse de verdade não poderia estar feliz lá em cima, longe de mim. Ficaria o tempo todo aqui comigo...”
E à inveja juntou-se o ciúme.
Inveja é ficar infeliz vendo as coisas bonitas e boas que os outros têm, e nós não. Ciúme é a dor que dá quando a gente imagina a felicidade do outro, sem que a gente esteja com ele.
E a flor começou a ficar malvada. Ficava emburrada quando a pipa chegava. Exigia explicações de tudo. E a pipa começou a ter medo de ficar feliz, pois sabia que isto faria a flor sofrer.
E a flor aos poucos foi encurtando a linha. A pipa não podia mais voar.
Via ali do baixinho, de sobre o quintal (esta essa toda a distância que a flor lhe permitia voar) as pipas lá em cima... E sua boca foi ficando triste. E percebeu que já não gostava tanto da flor, como no início...

Essa história não terminou. Está acontecendo bem agora, em algum lugar... E há três jeitos de escrever o seu fim. Você é que vai escolher.

Primeiro: a pipa ficou tão triste que resolveu nunca mais voar.
- “Não vou te incomodar com os meus risos, Flor, mas também não vou te dar a alegria do meu sorriso”.
E assim ficou amarrada junto à flor, mas mais longe dela do que nunca, porque o seu coração estava em sonhos de vôos e nos risos de outros tempos.

Segundo: A flor, na verdade, era uma borboleta que uma bruxa má havia enfeitiçado e condenado a ficar fincada no chão. O feitiço só se quebraria no dia em que ela fosse capaz de dizer não à sua inveja e ao seu ciúme, e se sentisse feliz com a felicidade dos outros. E aconteceu que um dia, vendo a pipa voar, ela se esqueceu de si mesma por um instante e ficou feliz ao ver a felicidade da pipa. Quando isso aconteceu, o feitiço se quebrou, e ela voou, agora como borboleta, para o alto, e os dois, pipa e borboleta, puderam brincar juntos...

Terceiro: a pipa percebeu que havia mais alegria na liberdade de antigamente que nos abraços da flor. Porque aqueles eram abraços que amarravam. E assim, num dia de grande ventania, e se valendo de uma distração da flor, arrebentou a linha, e foi em busca de uma outra mão que ficasse feliz vendo-a voar nas alturas.