Quando lemos o texto bíblico de Lucas 4:1-13 que narra sobre a tentação de Jesus, somos desafiados a pensar sobre as tentações em nossa própria vida. A tentação no deserto resume os conflitos que Jesus vai experimentar em toda sua vida, e também as tentações que enfrentamos em nosso dia a dia e a vitória sobre elas.
A primeira tentação está no verso 3: “Se és Filho de Deus manda que esta pedra se transforme em pão”. No versículo 2 deste capítulo 4 de Lucas temos a afirmação que Jesus “teve fome” depois de 40 dias no deserto sem comer. O Diabo, que veio a este mundo para roubar, matar e destruir (cf. Jo 10:10), com certeza não estava preocupado com o bem-estar de Jesus. Ele, na verdade, usa a fome (bem como todas as nossas necessidades!) de Jesus para tentar convencê-lo a usar o poder que Deus havia lhe dado, em favor de si mesmo. Como cristãos cremos que, sempre devemos depender e confiar na providência de Deus; só o ouvir o Diabo já é pecado (cf. Rm 14:23). Ele se coloca sempre como alternativa a Deus e à vontade de Deus em nossa vida.
A resposta de Jesus é que “não só de pão viverá o homem”, lembrando com certeza do texto bíblico de Deuteronômio 8:3: “...não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor, disso o homem viverá”. Jesus sabia o valor do pão capaz de saciar a fome, e o quanto ele é necessário à vida, mas Jesus preferiu confiar e esperar na graça e ação de Deus. O pão é importante, mas é muito mais importante confiar na Palavra do Deus que tirou Israel da escravidão na terra do Egito e que o ensinou na longa caminhada pelo deserto que “nem só de pão vive”. Não vivemos somente em prol de nossas necessidades que precisam obviamente ser satisfeitas. Fomos chamados à vida pela Palavra criadora de Deus para o louvor da Sua Glória. E isso, com certeza, é algo muito especial...
A segunda tentação sofrida por Jesus está nos versículos 6 e 7: “se prostrado me adorares” te darei “a autoridade e glória dos reinos do mundo”. O Diabo conhece nosso amor e desejo por riquezas. Ele usualmente nos tenta, oferecendo-nos “autoridade e glória” sobre os reinos do mundo. O Diabo explora nossa ambição, nossa ganância, nossos desejos... e os usa para nos contrapor a Deus.
A resposta de Jesus a esta tentação também é bíblica: “Ao Senhor Deus adorarás, e só a Ele darás culto”. É um versículo retirado de Deuteronômio 6:4-25, com destaque especial ao versículo 13. Mais uma vez Jesus confia a Deus os seus desejos e necessidades ao reafirmar sua fé nos propósitos divinos. Jesus nos ensina que o mundo sem Deus é pouco demais, mas que o pouco com Deus é o suficiente. Até porque o mundo não pertence ao Diabo, apenas é “diabolicamente” usado por ele. À opção de cobiça por riquezas, Jesus se apresenta honradamente como servo de Deus; alguém que deseja a “autoridade e a glória de Deus”. Essa é a maior riqueza para um homem: desfrutar da aliança, da presença, da intimidade do Deus vivo.
A terceira tentação de Jesus, nos versículos 9 a 11, tem até uma “aparência bíblica”: são citações de Sl 91:11-12. O Diabo usa o texto bíblico para tentar Jesus, para seduzir Jesus. A tentação é que Jesus, confiado na sua autoridade já profetizada desde os tempos do Antigo Testamento, se jogue do pináculo do templo de Jerusalém (a parte mais alta) e que dê ordens aos seus anjos para que o amparem. O que está por trás dessa tentação? Mais uma vez é usar o poder de Deus em favor de si mesmo. Mas tem mais: o Diabo propõe que Jesus dê uma demonstração de força, mostrando o quanto é poderoso. A multidão que gosta de show lhe daria aplausos e Jesus faria muito sucesso; reconhecido até mesmo como uma espécie de super-herói. Mais uma vez o Diabo, conhecedor da natureza humana, explora o nosso desejo pelo poder e pelo sucesso.
Sem fugir das Escrituras e da sua fidelidade a Deus, a resposta de Jesus é retirada de Deuteronômio 6:16: “Está dito: não tentarás ao Senhor teu Deus”. O texto de Deuteronômio é uma clara alusão ao relato bíblico de Êxodo 17:1-7, quando o povo contendeu com Moisés, tentando ao Senhor ao duvidar: “Está o Senhor no meio de nós, ou não?”. Jesus ao dizer “não tentarás o Senhor teu Deus” revela que tentar ao Senhor é duvidar da sua graça, da sua fidelidade e mais que isso: é tentar colocar Deus a seu próprio serviço ou interesse. Ou seja, a tentativa de usar o nome, o poder, a palavra, a Obra e o próprio Deus em favor de si mesmo.
Como diz o comentário de rodapé da Bíblia Edição Pastoral (Edições Paulinas) a este texto de Lucas 4, “Jesus é tentado a falsificar a própria missão, realizando uma atividade que só busque satisfazer às necessidades imediatas, buscar o prestígio e ambicionar o poder e as riquezas. Jesus, porém, resiste a essas tentações. Seu projeto de justiça é transformar as estruturas segundo a vontade de Deus (“Palavra que sai da boca de Deus”), não pondo Deus a seu próprio serviço ou interesse (“Não tentarás ao Senhor teu Deus”), e não absolutizando coisas que geram opressão e exploração sobre os homens, criando ídolos “Adorarás ao Senhor teu Deus...”). Que Deus nos abençoe!
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