domingo, 12 de outubro de 2008

Luz do mundo, luz do céu (Luiz Carlos Ramos)



para Lisete, estrela radiante de primeira grandeza

Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. (Mateus 5.14-16)

Introdução
Fomos feitos para brilhar, diz Jesus no mais famoso sermão jamais pregado — aquele que teve como púlpito uma montanha. Note-se a hierarquia do texto: somo luz que ilumina o mundo, a casa e os homens; e conclui com a glorificação do Pai que está nos céus. Isto indica que quando as nossas boas obras são notórias em todas as esferas da vida — da mais pessoal e doméstica até a mais universal e ecumênica—, em última instância, Deus é quem é glorificado (vale lembrar que a palavra glória, em hebraico, significa “brilho”, “iluminação”).

Mas Jesus, ironicamente, também diz que há quem não resista à tentação de acender uma vela para colocá-la debaixo de um pote de farinha. Naturalmente isso não é uma coisa muito inteligente a se fazer. Entretanto, vocês devem convir comigo que o dom da lógica não é, realmente, patrimônio da grande maioria.

Cômico ou trágico, temos de admitir que nem tudo que foi feito pra brilhar, brilha. E, ainda que pareça incrível, há muita coisa que não deveria brilhar e brilha.

O Nascimento das Estrelas
Tomemos como exemplo os corpos celestes. Há os de brilho próprio —as estrelas—, e há os que apenas refletem a luz —os planetas, os satélites, os cometas, etc.
Ambos brilham, mas aquelas, a partir de dentro, estes a partir de fora. Satélites e planetas refletem a luz, ao passo que as es-trelas são luz. Jesus disse que nós também somos a luz, e não me-ros refletores.

Entretanto, há quem não tenha luz própria... mas que pega carona na luz dos outros. São como os corpos celestes refletores, que dependem da luz externa. Só conseguem exercitar sua espiritualidade se estimulados a partir de fora. Para esses, o culto só é uma bênção quando há pregadores eloqüentes, música envolvente, testemunhos emocionantes... Se, por alguma razão precisarem ficar a sós, a espiritualidade se vai. Desaparecem os arrepios, as lágrimas se secam, a glória se apaga. Porque a luz não está dentro deles, e adoram um deus que está do lado de fora.

Uma pessoa cristã deve brilhar a partir de dentro, porque Jesus, que é a grande luz, está dentro de nós — mais ou menos como uma lanterna, cujas baterias estão na sua barriga. A energia da lanterna vem de suas entranhas. A luz mora no seu interior e trans-borda por seus vitrais.

Pra resumir essa idéia, fomos feitos pra brilhar, mas se não estamos brilhando é porque alguma coisa está errada por dentro, e é preciso consertá-la.

Os Eclipses das Estrelas
Mas há uma outra situação que pode fazer com que a nossa luz fique impedida de brilhar. Mesmo o Sol, sendo uma estrela cheia de luz, de tempos em tempos fica ofuscado por corpos muito menores. Todos já ouvimos falar de eclipses, e até mesmo muitos já pudemos observar esse curioso fenômeno astronômico. Há oca-siões em que, por exemplo, a Lua, conquanto muito menor do que a própria Terra, é suficiente para tapar a luz do Sol.

Entre os seres humanos, os eclipses são ainda mais freqüentes do que entre os corpos celestes. Há muitas circunstâncias nas quais a nossa luz fica obstruída. Isso pode ser causado por pessoas que se colocam diante de nós para nos prejudicar; ou pode ser cau-sado pelas contingências da vida que por vezes nos abatem, tais como enfermidades, crises financeiras, conflitos familiares, etc.

Mas há uma lição que devemos aprender com os Eclipses: todos eles são temporários. Não há eclipse que dure para sempre — porque a vida é movimento! Mais cedo ou mais tarde, a roda viva do Universo muda a posição dos corpos (celestes ou terrestres) e a luz represada volta a viajar rumo ao infinito.

É só uma questão de paciência astronômica. Porque jamais houve e jamais haverá algemas capazes de aprisionar a luz.

A Morte das Estrelas
Tragicamente, há ainda mais uma ocasião em que a luz pode deixar de brilhar: quando chega o inevitável crepúsculo sideral —pois até mesmo as estrelas morrem.
Só que até nisso as estrelas nos ensinam. Dizem os astrônomos que muitas das estrelas que vemos no céu, já deixaram de existir há milhares ou milhões de anos. Entretanto, sua luz ainda está lá. Não é fantástico?! As estrelas brilham com intensidade tal, que mesmo depois de sua morte, vencem o tempo e alcançam o infinito.
Isso quer dizer que se também brilharmos com a intensida-de de quem tem Deus dentro de si, mesmo depois de nossa morte, nossa luz continuará a iluminar as gerações futuras. Da mesma forma que hoje somos iluminados pela luz daqueles e daquelas que viveram antes de nós, que nos deixaram um legado de fé, esperança e amor. Esta igreja é uma herança, um presente, uma luz que nos chega do passado. Luz que ainda contemplamos, mesmo que tenha sido gerada por estrelas que já cruzaram as fronteiras do crepúsculo.

Parafraseando Fernando Pessoa, brilhar é preciso, viver não é preciso. Ser luz é a melhor maneira de vencer o tempo e alcançar o infinito.

Peroração
Queridas irmãs e queridos irmãos, este é um tempo de festa, principalmente porque estamos comemorando o auge luminoso dessa estrela chamada Igreja Metodista em Rudge Ramos. E nós, para aludir ao grande cientista Karl Sagan, somos pó dessa grande estrela.

Nossas obras, se forem boas, iluminarão os indivíduos, as nossas casas, a nossa igreja e o mundo todo, mesmo muito depois de nossa partida. E assim, segundo a pregação de Jesus registrada pela comunidade de Mateus, o próprio Deus será glorificado. E há de ser que a luz do mundo, será também a luz do céu.

Se brilharmos a luz de Deus, Deus brilhará a nossa luz.

Rudge Ramos, Ano Estelar 2004


* * * *
Quando minha filha, Ana Paula, tinha seis aninhos, depois de uma longa conversa pelo telefone, nos despedimos assim:
— Um milhão de beijos pra você, minha filha.
— Não, pai, sabe as estrelas do céu, cada estrela é um beijo meu pra você.
Emocionei-me, e continuei:
— Um Universo de beijos pra você também, minha filha.
— Não, pai, um espaço sideral de beijos pra você.
Que lição incrível: As crianças não têm dificuldade de saber como brilhar com a luz das estrelas. Para elas é fácil saber que um simples beijo pode ser uma linda estrela.
É isso, um beijo é uma estrela, uma confissão cheia de ter-nura a dizer sem palavras: — Amo você!
Se você tem Deus aí dentro, isto é, se você ama, deposite na face do seu irmão e da sua irmã uma estrela estalada, um carinho-so beijo de luz.

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