
Já não me lembro mais.
E todavia foi
o instante mais profundo
de minha adolescência.
Lembro apenas que havia
sereno em seus cabelos,
e uma canção subia
de seus ombros azuis.
Ou talvez fosse o céu,
já não me lembro mais.
Sim, recordo, mas muito,
mas muito longemente,
que era um medo em meu peito,
mas do meio do medo
se erguiam deslumbrados
e palpitantes pássaros.
E sobretudo lembro
que de repente estrelas
e punhais desabavam
iluminando um chão
que já não era mais
o chão da meninice.
Já não me lembro mais.
Nem seu nome eu guardei.
De tudo, cinza doce
daquela imensa brasa,
guardo nos pés o frio
do capinzal molhado.
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