Antônio estava fazendo uma pesquisa que sua professora da 3ª série primária havia pedido. Sua mãe, Cinthia, parou perto e ficou vendo Antônio escrever no seu caderno com uma letra bem bonita:
- Estou pesquisando sobre o Pastor Martin Luther King Junior, mamãe!
- Sabe Antônio, ele foi uma pessoa muito especial!
- Mas se ele era especial, mamãe, por que mataram ele?
A mãe sentou-se ao lado de Antônio e disse?
- Bem, meu querido, ele era um pastor da Igreja Batista numa cidade lá dos Estados Unidos. Ele era negro e no tempo que ele viveu as coisas eram muito difíceis para as pessoas negras. Elas não tinham os direitos e a liberdade que nós negros temos hoje.
- Como assim, mamãe? Elas eram escravas?
- Mesmo depois que terminou a escravidão, as coisas continuaram muito difíceis. Muitas pessoas brancas não aceitavam o fim da escravidão. Era difícil tratar como vizinhos e como amigos aqueles que durante muito e muito tempo foram tratados como escravos. Assim, mesmo tendo acabado o tempo da escravidão, os maus-tratos aos negros continuou. Eles eram tratados como pessoas de segunda categoria.
- Como assim?
- As pessoas de cor branca podiam fazer o que queriam, mas as pessoas de cor negra só podiam fazer o que as pessoas brancas deixavam. As pessoas brancas achavam natural os brancos baterem num negro e até matar. Mas aí de um negro que levantasse sua mão contra um branco, mesmo que fosse para se defender... ia preso e era espancado.
Antônio fica indignado e pergunta:
- Mas isso é injusto, mamãe! Injusto e cruel! Como alguém só porque tem a sua pele branca pode achar que tem o direito de fazer mal para uma outra pessoa só porque ela tem a pele negra?!
- É injusto e cruel, sim, Antônio. A escravidão foi cruel, arrancar as pessoas negras e trazê-las acorrentadas nos porões dos navios negreiros para trabalharem como escravas foi cruel, o preconceito, o racismo e a violência contra os negros foram coisas muito cruéis, meu filho.
- E as leis e a polícia, não protegiam as pessoas dos brancos que eram maus, mamãe?
- Infelizmente, não. As leis do tempo do Pastor Luther King eram leis injustas e racistas feitas pelos brancos. Havia leis que proibiam as pessoas negras de morar em bairros que eram só para as pessoas brancas e leis que proibias as pessoas negras de entrar em lojas que ram só para pessoas brancas. Até nos ônibus havia lugar para as pessoas brancas e as pessoas para as pessoas negras. Era um crime desrespeitar isso. E a polícia era só de gente branca e que tinha que cumprir a lei.
- Mas ninguém ajudava as pessoas negras, mamãe?
- Claro que teve gente que achava aquilo tudo uma coisa horrível. Mas eram bem poucos. A maior parte das pessoas brancas achava aquilo tudo normal. Elas achavam normal tratar os negros como inferiores e com brutalidade. Elas achavam que os negros eram perigosos e traiçoeiros. Era praticamente impossível uma pessoa branca ser amiga de uma pessoa negra. Os brancos não gostavam das pessoas brancas que eram amigas das pessoas negras. Os brancos amigos dos negros eram perseguidos e às vezes até preso. Já as pessoas negras...
- E as pessoas negras, mamãe?! Conta mamãe...
- As pessoas negras resistiam o quanto podiam. Não se entregavam facilmente. Não era fácil, mas temos muitos heróis negros. Um deles é o Pastor Luther King.
- Mas mamãe, uma pessoa negra podia ser pastor naquele tempo?
- Bem, podiam ser pastor sim, mas só podiam ser pastores das igrejas das pessoas negras.
- Não entendi, mamãe, os brancos não podiam entrar na Igreja dos negros?
- Não meu filho, os negros é que não podiam entrar nas igrejas freqüentadas pelos brancos. Aí eles acabaram organizando igrejas onde as pessoas negras pudessem participar, louvar a Deus, tomar a Ceia do Senhor... Os brancos é que não iam nas igrejas dos negros. Alguns brancos até punham fogo nas igrejas, só para as pessoas negras não se reunirem.
- Que horrível, mamãe!!
- Mas deixa eu falar do Pastor Luther King.
- Vai fala... Conte tudinho que você sabe!
- O Pastor Luther King achou tudo isso horrível, cruel e injusto. E logo começou a lutar contra tudo aquilo. Ele dizia pra todo mundo que Deus não queria que as coisas fossem daquele jeito, ele pregava chamando as pessoas a não se conformarem com aquelas injustiças, ele organizava passeatas protestando contra a injustiça. Ele fez parte do grupo de pessoas que lutavam por justiça, liberdade, igualdade para as pessoas negras e pelos direitos civis para os negros.
- Que que é “direitos civis”?
- Os que lutavam pelos direitos civis queriam que os negros fossem tratados de maneira mais juta e humana, que tivessem os mesmos direitos que as pessoas brancas. Que a lei e a polícia fossem iguais para todos e não apenas para proteger os brancos e castigar os negros. “As leis têm de ser iguais para todos” – eles gritavam. Queremos votar para prefeito, para governador e até pra presidente da república dos Estados Unidos!
- Mas por que mataram o pastor Luther King? Ele não queria uma coisa boa e justa?
- Claro que o que ele e todos os negros queriam era que as leis fossem mais justas e que a vida fosse boa para todos. Eles não queriam violência, e fazer com os brancos o que os brancos faziam com eles. Mas esse movimento pelos direitos civis foi considerado uma coisa subversiva, ou seja, uma coisa ruim e perigosa. E muita gente ficou incomodada com a pregação e a liderança daquele pastor negro. Começaram a dizer que ele era um agitador, um criador de tumultuo, uma ameaça às leis.
- Quem dizia isso mamãe? Quem chamava o Luther King de coisa ruim?
- Ah! Meu filho, quase todo mundo. Os homens que faziam os jornais, os que falavam no rádio, os que governavam, os que eram da polícia, os pais e mães, e até as crianças brancas. Todo mundo tinha muito medo do que o que os negros queriam e da justiça que aquele pastor pregava. Afinal as famílias de brancos não queriam as famílias de negros na vizinhança. Os pais e mães brancos não queriam que seus filhos estudassem numa mesma escola com crianças negras. Ninguém queria trabalhar junto com um negro. Muita gente se sentia muito ameaçada com aquilo tudo.
- E foi aí que os brancos resolveram matar o pastor Luther King?
- Bem, os brancos não se reuniram e disseram assim: “vamos matar aquele pastor, vamos escolher alguém para fazer isso”. Mas com certeza muita gente queria matar o pastor Luther King. Muita gente torcia para que alguém matasse aquele pastor. Mas havia tanto ódio por parte de alguns brancos contra o pastor Luther King, que uma tragédia era certa de acontecer. Mas ele não tinha medo. Aliás, se tinha medo, não demonstrava, pois não se escondia e nem se calava. O Pastor Luther King era visto como uma ameaça.
- A história dele parece com a história de Jesus, né mãe?!! Na Escola Dominical eu aprendi que Jesus também queria justiça para as pessoas e que muita gente injusta também ficou incomodada e disse: “Esse Jesus é uma ameaça! Vamos matá-lo!”
- Isso mesmo, Antônio! Boa lembrança!
- Eu estava lendo que o Pastor Luther King foi morto com um tiro.
- Foi no dia 4 de abril de 1968. Ele estava falando para uma multidão. Ele dizia que as pessoas não se conformassem com as injustiças, para lutarem sempre pela justiça. Aí tinha alguém de tocaia, escondidinho, e apontou uma arma e matou o Pastor Luther King. Foi no dia 4 de abril de 1968.
- Prenderam o assassino, está escrito aqui nessa revista. – diz Antônio, apontando para o texto. –Mas o que aconteceu com o assassino, mamãe?
- Não sei, meu filho. O que sei é que a morte do Pastor Luther King deixou todo mundo muito triste. Mas ao invés de desanimar, a morte dele deu mais força ainda às pessoas que lutavam pelos direitos civis. E cada dia com mais e mais gente se envolvendo, não teve jeito: os governantes foram obrigados a criar leis justas para brancos e negros.
- E tudo se resolveu! E viveram felizes para sempre...
- Nada disso! As leis mais justas foram o início. Desde aquele tempo as pessoas negras continuam lutando muito: primeiro para as leis serem cumpridas e obedecidas. Lutando contra o racismo e o preconceito. Pois se as leis se tornaram mais justas, não era fácil as pessoas mudarem o comportamento de um dia para o outro. As leis eram mais justas, mas as pessoas ainda continuavam racistas. Muito tempo passou e ainda há muito racismo. Há ainda muita gente racista.
- O que é racista?
- Racistas são as pessoas que acreditam que a raça delas é melhor que as demais.
- Como assim?
- No caso que estamos falando, racistas eram as pessoas que por um lado achavam que as pessoas brancas eram as melhores, as mais bonitas, as mais inteligentes e as que nasceram para mandar. Por outro lado, achavam que os negros eram inferiores, feios, violentos e que nasceram para serem escravos, empregados, pobres.
- Uma pessoa não é mais inteligente ou mais bonita porque causa da cor da pele. Nem é uma pessoa boa ou uma pessoa má por causa da pele branca ou negra. Foi Deus quem fez as pessoas brancas e as pessoas negras, mamãe! Ele é o Deus pai de todas as pessoas e as pessoas de todas as cores, tamanhos e idades são filhas de Deus!
- Racismo, Antônio, não é coisa de Deus! Nem racismo, nem injustiça, nem violência, nem qualquer tipo de preconceito! Devemos amar e ser amigos de todas as pessoas!
- Pois é, mamãe. Eu tenho amigos brancos, amigos negros. Não é fácil mamãe, mas eu procuro ser amigo até das meninas!
- Antônio!! – falou a mãe como que repreendendo ao filho, meio que surpresa.
- Mas elas são muito chatas, mamãe! Não sabem brincar de bola, se sempre estragam a brincadeira. Só gostam de ficar passando batom!!!
- Olha o preconceito, Antônio! Você não pode gostar apenas das pessoas que são iguais e das pessoas que gostam de fazer o que você gosta! As pessoas são diferentes e têm o direito de ser diferentes e gostar de coisas diferentes. Foi Deus quem fez as pessoas diferentes, Antônio! Mas a falta de amor criou as desigualdades. Todas as pessoas precisam ser respeitadas!
- Será que o Pr. Luther King ia criar leis para os meninos respeitarem as meninas?!
- As leis já existem, meu filho. O que precisamos é de mais respeito, tolerância, amizade e amor.
- É, mamãe, acho que eu tenho muito que aprender!
- Todos temos muito que aprender! – falou D. Cíntia abraçando carinhosamente o filho e pensando: “Deus criou as pessoas diferentes umas das outras, mas a falta de amor criou a desigualdade entre as pessoas”.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
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