segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Conversa sobre a inclusão da criança na vida cúltica (Luiz Carlos Ramos)


Você conhece uma publicação chamada “Criança, prioridade absoluta no reino de Deus: sobre a mística que anima a defesa da vida da criança na história do povo de Deus” de Carlos Mesters? Foi publicada pela Pastoral do Menor, São Paulo, 1997. Tenho aqui o endereço (Rua Lavradio, 165, Cep 011540-020, São Paulo, SP – tel 11-862-3292, fax 11-66-1798).

Nesse texto, Mesters começa afirmando que “é bom lembrar sempre que o êxodo do povo de Deus começou com a defesa da vida ameaçada das crianças! Foram quatro mulheres que, para defender a vida dos meninos condenados à morte, começaram a reagir contra o sistema do faraó...”

Também em um material inédito do Instituto de Pastoral da FT (originalmente elaborado pela Regininha e pelo Fernando e posteriormente reelaborado por nós da FT, com a ajuda do Pedro Nolasco) podemos ler:

“A criança no mundo bíblico, na história da Igreja e sua relação com a vida cúltica – De maneira geral, não é tarefa fácil encontrar referências históricas da participação efetiva de crianças nos cultos, visto que tanto crianças como mulheres não eram valorizadas na sociedade judaica e ocidental do passado. Contudo, podemos encontrar alguns relatos de sua participação, ainda que venham a ser de forma indireta ou limitada.

2.1 Cadê a criança no mundo bíblico?
A Bíblia nos mostra duas perspectivas sobre as crianças no judaísmo antigo. Uma apresenta as crianças de maneira positiva, incluindo-a nas celebrações familiares. A outra surge com a com a chegada e crescimento do poder do Templo de Jerusalém, quando as crianças passam a ser vistas de maneira negativa, sendo excluídas das celebrações, conforme veremos a seguir.

A inclusão das crianças na vida cúltica

No judaísmo antigo, há um forte vínculo entre culto, cultura e tradição. O momento cúltico é lugar onde os pais passam para os filhos e filhas a tradição e a história do povo. Nesse sentido, o contato da criança com a religião se dava no interior da família. Os pais ensinavam a lei para seus filhos e filhas, conforme ordenança divina (Dt.6.6-7ss).

As crianças participavam efetivamente da celebração da Páscoa, perguntando sobre os símbolos da celebração (Ex.12.26). Dessa maneira entravam em contato com a história da libertação do povo de Deus do Egito.

Na verdade, grande parte dos ensinamentos para os filhos e filhas seguia a lógica de incutir na memória, especialmente das crianças, histórias como a da libertação do povo do Egito. Encontramos aí a interessante valorização da história e da memória, como elementos norteadores para a vida. Nesse sentido, a dimensão religiosa não estava separada da dimensão educativa, ocorrendo no seio da família.

Através da circuncisão as crianças, ainda muito novas, se iniciavam nos ritos judaicos. Havia ainda a apresentação dos recém-nascidos ao Templo, depois do ritual de purificação da mãe. Entretanto, ambos rituais se direcionavam às crianças do sexo masculino. Nota-se aí a exlusão das meninas, conforme veremos nopróximo item.

Encontramos indícios da participação da criança na religiosidade judaica, na figura de Samuel, que foi levado ainda muito pequeno ao Templo para servir a Javé (1 Sm 2ss). Junto ao sacerdote Eli, o menino Samuel participava ativamente da vida cúltica, vindo a se tornar, posteriormente, um sacerdote do povo.

Já no NT encontramos Jesus sendo consagrado no Templo (Lc 2,21) e, ainda menino, indo com seus pais a Jerusalém para a celebração da Páscoa. Tratava-se de uma peregrinação, onde muitas famílias se uniam para essa caminhada. Assim, é possível detectar a participação das crianças num momento litúrgico familiar, o que não prova a sua presença efetiva no culto em si.

Em Atos, vemos a participação de famílias inteiras no ato litúrgicos do Batismo, como no caso de Lídia (At 16,14-15), do carcereiro (At 16,31-33) e de Crispo (At 18,8).

Quanto ao tratamento de Jesus às crianças destacamos dois textos: Mc 10,13-16 e Mt 21,15-16.

No primeiro, muito conhecido por nós, ele abraça e abençoa as crianças, apesar dos discípulos se apresentarem contrários a essa atitude. No segundo as crianças aparecem gritando no átrio do Templo:

Vendo então os principais dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia, e os meninos clamando no Templo, Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se, e disseram-lhe: ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?. (Mt 21,15-16)

Este texto mostra que Jesus vê com bons olhos o louvor dos pequeninos. Adiante, estudaremos mais sobre a atitude de Jesus com as crianças.

Por ora, nos deteremos às seguintes questões: Por que os discípulos são tão contrários à aproximação das crianças a Jesus? De onde surge tamanha indignação por parte dos sacerdotes e escribas com relação ao louvor das crianças? (...)”



Espero que sirva como ponta-pé inicial.

Abraço forte



Luiz C. Ramos

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