O Século XIX foi o século das lutas pela emancipação feminina (...). Na verdade, tudo se passa como se o século tivesse começado uma década antes. Isso porque, na França de 1791, Olympe de Geouges, escreveria a célebre Declaração dos direitos da mulher e da cidadã, e, no ano seguinte, a inglesa Mary Wollstonecraft afirmaria, em Uma reivindicação dos direitos das mulheres, que "não existe sexo nas almas". (...)
Quando da declaração dos direitos das mulheres na simbólica Assembleia de Seneca Falls, na Noca York de 1848, seguiu-se uma avalanche de cartuns, editoriais, sermões e panfletos contra a lutas das mulheres por direitos civis básicos e elas foram chamadas de feministas "desregradas" e "pervertidas", decididas a "subverter a família e as relações naturais entre os sexos".
Diante do avanço internacional do movimento feminista em busca de cidadania para as mulheres, a Áustria promulgaria em 1867 uma lei que proibia qualquer atividade política a (...) mulheres, o que não impediu o surgimento de organizações sociais e publicações que apoiavam e defendiam o direito das mulheres.
Já naquela época muitos homens ergueram-se contra a condição das mulheres sem direitos civis. Na Inglaterra, John Stuart Mill, por exemplo, membro do Parlamento desde 1865, submeteu uma petição em favor do direito das mulheres ao voto. Seu pleito foi derrubado por 194 votos contra 73.
(...) Em 1910 o alemão Sigmund Freud posicionou-se firmemente a favor da admissão de mulheres na Sociedade Psicanalítica de Viena. Era extremamente raro uma mulher ter alguma carreira profissional, sobretudo na área médica. Em abril daquele ano Margarete Hilferding foi a primeira mulher a integrar a Sociedade.
Visto com os olhos de hoje, talvez pareça um ato insignificante o apoio e a entrada de uma mulher num círculo fechado a homens. Mas é importante lembrar que apenas 10 anos antes a Universidade de Viena ainda não admitia mulheres. Aliás, poucos anos antes da chegada do século XX, eminentes professores da Faculdade de Medicina se opunham até mesmo à melhoria do ensino médio para mulheres, temendo que elas pudessem em seguida reivindicar o acesso à universidade.
O então Código Civil austríaco, em vigor desde 1811, assegurava ao homem o posto de chefe da família e de representante legal da esposa e dos filhos, reservando à mulher o âmbito doméstico e concedendo-lhe não mais do queo direito à subsistência.
A misoginia era embasada naqueles tempos pelo livro Sobre a debilidade mental fisiológica das mulheres, um best-seller da misoginia, escrito pelo então renomado neurologista Paul Julius Möbius, que "provava científicamente" que a mulher era um ser inferior e incapaz, que precisava do homem não como companheiro, mas como tutor.
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(Texto extraído, condensado e adaptado das páginas 19 a 27 do livro Obras Incompletas de Freud - Amor, Sexualidade e Feminilidade", da Editora Autêntica).
terça-feira, 7 de maio de 2019
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