terça-feira, 7 de maio de 2019

27 de janeiro de 2019 

DIVAGAÇÕES DE UM FINAL DE NOITE
Ronan Boechat de Amorim


Sentir a dor do outro... deixando que a dor do outro nos afete e doa em nós tb.
Num momento de oração agora à noite me veio a imagem de Jesus tomando sobre si e sofrendo as nossas dores, das tragédias pessoais às tragédias familiares, nacionais e mundiais.

Além da dor física da tortura e da crucificação e as demais dores pessoais como o abandono, a injustiça, a traição, o sentimento de ser desamparado pelo próprio Deus Pai, Jesus somatizou e sentiu solidariamente a dor de cada um e a dor de todos. Sentiu o poder cruel de nossa desumanidade e esperança morredoura de nossas esperanças de bondade e paz.

Podendo viver uma vida de paz, justiça, amor, harmonia, desgraçadamente preferimos as mazelas da injustiça e do sofrimento, do abuso e da violência. Há terra para todos mas nem todos têm terra e casa. Há comida para todos mas milhões sofrem e morrem a dor da fome. Há espaço para todos mas nos segregamos e nos matamos uns aos outros pelo racismo, pela misoginia, pelo privilégio de ter mais que os outros, pelo poder de submeter e explorar outras pessoas, tornando-as subservientes a nós e ao nosso grupo.

Em vez de gozar o amor e a riqueza da companhia do outro, acabamos por acrescentar peso e dor à vida dos outros, e por extensão à Vida de todos nós.

À Vida que por si só é frágil, transformamo-la para muitos em algo descartável, numa relação de uso e abuso... Tornamo-nos predadores insaciáveis, vampirizando a vida dos outros, a Vida como um todo.

Mas Jesus tomou sobre si todo o nosso pecado e deu-nos pelo seu amor a possibilidade de inverter esse jogo e sentir prazer em andar na contramão dessa história sem Graça, de nadar contra a maré, se andar de ponta-cabeça diante da nossa natureza ambígua e decaída. E vendo a nossa estupidez e sentindo nossas dores pediu que Deus perdoasse a nossa desumanidade pois não enxergamos de fato nem um palmo na frente do nosso nariz...

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