sábado, 1 de novembro de 2008

A Sementinha





O cheiro de terra comprimia o corpo da semente. No começo, o vento a lançara sobre o solo e depois o mesmo vento rodopiando a cobriu de terra, Aos poucos ela foi se acostumando com aquele aprisionamento e conseguiu respirar. Um medo enorme invadiu todo o seu pequeno ser, porque a terra sempre escura não contava nada do que se passava do lado de fora... A semente tinha saudade do sol e dos pássaros; entretanto, acalmava-se e tentava compreender que aquele mistério fazia parte de sua transformação. Não podia falar porque a terra quente, abafando tudo, transformava suas palavras em silêncio.
Até que um dia, foi despertada por um grande ruído. Sentiu o baque da chuva sobre o solo e o cheiro gostoso do chão que estava molhado. Então a sementinha despertou e sentiu um friozinho nas costas. Era um gota de chuva que tinha chegado até ela;
-Ei, menininha! Agora você pode perfurar a terra e alcançar a liberdade.
A muito custo ela abriu os olhos de semente e gaguejou:
-Boa noite, senhora!
- Não é noite não, menininha. É dia!
- Como podia saber, se aqui é sempre tão escuro?
A chuva riu...
-Que é isso, meu bem? Você está tremendo toda!
-Ah, dona chuva, estou com tanto medo de nascer...
- Bobagem... Vamos, eu ajudo!
E a sementinha, com medo, disse:
- Mas eu não sei por onde nascer...
Dona chuva passou os dedos nas costas da pequenina e parou em um determinado ponto.
- Deve ser aqui. A casca está fininha. Vou amolecer mais e você fará um esforço...
Com muito esforço e determinação foi tirando um bracinho de dentro da casca, depois o outro, até que se libertou.
O contato de seu corpinho fraco, miudinho, com a terra úmida, enchia-lhe a vida de um novo encanto.
A chuva bocejou:
- Viu, minha filha? Não é tão difícil nascer.
Mas dói um pouco...
- É, mas se não doesse, a vida não teria preço. Agora trate de caminhar, pois você precisa sair, andar e perfurar distâncias.
Dona chuva estava com razão; quando conseguiu deixar surgir sua cabecinha do lado de fora, seus olhos se fecharam com tontura. Levantou os braços para restabelecer-se. Nesse momento ouviu muitas risadas. Seus olhos foram percorrendo mais calmamente as árvores grandes e copadas. Eram lindas! Com folhas de um verde brilhante. Como tudo era belo. Como é bom viver.
A seringueira , então possuída de um carinho maior, com sua voz que engrossara com os séculos, acalentou-a com ternura:
- Você é uma criancinha linda e delicada. Faz muito tempo que pedimos ao vento que trouxesse uma semente para cá. Você vê que somos todas velhas árvores e a vida sem crianças se torna triste e feia.
A sementinha, que agora já estava se transformando em uma plantinha, fechou os olhos e descansou sabendo que estaria protegida pelas velhas árvores.

***Mostrar o quanto são importantes, esperadas, fruto do amor de seus pais. Dizer que elas trazem dentro de si sementes da alegria, da paz , do amor, pois também são frutos do amor de Deus. Disse Jesus: “Deixai vir a mim as criancinhas”
***Desafio para a Igreja: que nós adultos sejamos como aquelas árvores da história que esperam com alegria, cuidam e transmitem segurança ao pequeninos.

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Adaptado por Nancy 2 RE, do Livro “Cirandinha”, de Magda Villas Boas.

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