terça-feira, 27 de setembro de 2011

Carroça Vazia

CARROÇA VAZIA

 Eu ainda era menino quando certa manhã eu e meu pai andávamos próximo de casa por uma rua com muitas árvores. Havia pouco movimento de pessoas e carros e também poucos barulhos. Ouvíamos o vento balançando as folhas das árvores e alguns passarinhos cantando.

Subitamente meu pai parou e depois de um pequeno silêncio me perguntou:
 -  Além do vento e dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?

Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:
- Estou ouvindo um barulho de carroça.

- Isso mesmo, disse meu pai, é uma carroça vazia.
 

Perguntei ao meu pai:
- Como o Sr. pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?
 

Meu pai respondeu:
- É muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça maior é o barulho que ela faz.

Tornei-me adulto e até hoje quando vejo uma pessoa falando demais, berrando, gritando (no sentido de intimidar), tratando o próximo com grossura ou prepotência, interrompendo a conversa de todo mundo e, querendo mostrar que sabe mais que todos, que é dona da razão e da verdade absoluta, tenho a impressão de ouvir novamente a voz do meu pai dizendo: “Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz”.

Infelizmente há gente que não fala para conversar, para se comunicar com outros, mas apenas porque quer exibir-se. Gosta mesmo é de ouvir o som da própria voz.

 É como rosca de polvilho: mMuito barulho e pouca “sustança” (conteúdo). É muito barulho por tão pouco...